quarta-feira, 22 de maio de 2013

Como escolher um planejador financeiro


Como escolher um planejador financeiro

Valor Econômico – 15/05/2013


Decidir o quanto poupar e onde investir é sempre uma tarefa difícil. Contar com a assessoria de um profissional especializado para ajudar a definir os objetivos financeiros e avaliar as melhores opções de investimento tendo a certeza de que o especialista estará agindo de forma independente e isenta ainda é um luxo restrito a poucos no Brasil. Mas esse quadro pode mudar.
No dia 4 de maio, mais de 300 profissionais se reuniram para discutir os rumos e tendências para a profissão de planejador financeiro pessoal. Foi em um seminário promovido pelo Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (IBCPF).
As principais discussões giraram em torno do que Deena Katz, professora do departamento de planejamento financeiro pessoal da Texas Tech University, nos Estados Unidos, chamou de quatro mitos da profissão de planejador.
O primeiro deles é a crença que, para o cliente, é sempre mais eficiente o pagamento direto pelo serviço de assessoria financeira. A fórmula padrão é a de uma remuneração fixa, relacionada com a dificuldade do trabalho. Supostamente, essa é a maneira mais segura para minimizar os potenciais conflitos de interesse.
Casos em que as recomendações do profissional não estão, necessariamente, em linha com os objetivos do cliente podem ocorrer com frequência. Após a análise da situação patrimonial, o planejador financeiro tende a recomendar ações práticas. Além de ajustes no orçamento doméstico, o especialista pode sugerir determinados produtos financeiros, tais como aplicações em ações e fundos de investimentos, quitação de empréstimos ou contratação de seguro e plano de previdência.
O bom senso sugere que, se a remuneração do planejador financeiro não estiver atrelada à execução das recomendações, a isenção da análise será maior. No entanto, Katz tem uma visão mais pragmática sobre o tema. Alguns clientes, argumenta a especialista, podem se sentir desconfortáveis em pagar antecipadamente por um serviço que não sabem, ao certo, qual resultado terá. Porém, eventualmente, concordam que o planejador financeiro receba um percentual sobre as ideias que forem efetivamente levadas adiante, mesmo na forma de rebate sobre comissões de produtos financeiros.
O importante é que o planejador financeiro adote princípios sólidos para o exercício da atividade profissional, seja transparente, mantenha a isenção e saiba identificar e administrar os inevitáveis conflitos. Mesmo no caso em que os ganhos venham a ser gerados por meio de comissão de venda de produtos, é possível manter a isenção. Mas é fundamental que o cliente, após ser informado sobre a forma de remuneração do profissional, não tenha objeções.
O segundo mito é a necessidade de o planejador possuir uma prática independente, sem vínculos com instituições financeiras. Katz lembra que, para desenvolver uma atividade autônoma, é necessária a contratação de diversos serviços indispensáveis para o atendimento das demandas dos clientes. Dependendo do estágio de desenvolvimento do mercado em que o planejador atua, os custos dos serviços podem ser proibitivos. E compara os Estados Unidos com o Brasil. Devido ao tamanho do mercado americano, os serviços de análise, negociação, custódia e controladoria são oferecidos aos planejadores financeiros por uma fração do que são cobrados aqui no país.
Além disso, a atividade independente envolve preparo específico, tais como noções de empreendedorismo, controle de custos e estratégias de captação e manutenção de clientes. Na pior das hipóteses, o conjunto de outras tarefas pode tomar o tempo e a energia que poderiam estar sendo empregados no planejamento financeiro para os clientes.
Uma possibilidade, então, é que, mesmo atuando como parte de um conglomerado financeiro, o profissional adote práticas que o estimulem a agir de maneira independente. Assim, colocará os interesses do cliente em primeiro plano. Cabe ao potencial cliente desenvolver a percepção necessária para identificar com que tipo de profissional está trabalhando.
O terceiro mito é a necessidade de especialização do planejador financeiro na gestão de recursos. Com a constante sofisticação do mercado de investimentos, existe a pressão para que o profissional seja, cada vez mais, um especialista em produtos e estratégias financeiras.
Para Katz, o planejamento financeiro eficiente envolve uma abordagem holística, que deve levar em consideração todos os aspectos das necessidades financeiras do indivíduo. Se a opinião especializada for fundamental para resolver a necessidade específica de um cliente, ela pode ser conseguida por meio de consulta a outros profissionais.
Nos mercados desenvolvidos, a especialização dos profissionais de planejamento financeiro não tem ficado restrita às atividades de gestão de investimentos. Hoje, existem assessores dedicados ao atendimento de determinados tipos de demandas, tais como pequenos empresários ou famílias em que algum integrante possui certo tipo de necessidade especial.
Por último, o quarto mito é que os clientes querem apenas assessoria para investimentos. Katz explica que, ao longo do tempo, houve mudanças relevantes das principais preocupações. No passado, a recomendação final era o que importava. As novas gerações preferem uma abordagem que propicie respostas corretas.
Hoje, é fundamental que o planejador financeiro possua um sólido processo para chegar às recomendações. E deve ficar claro para o potencial cliente.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Made in USA


Made in USA



Por Ricardo Amorim

Há anos, a produção da indústria brasileira está estagnada em níveis atingidos no final de 2008. Ao invés de enfrentar as causas estruturais da baixa competitividade da nossa indústria – infraestrutura precária, carga tributária excessivamente elevada, ambiente de negócios instável e produtividade da mão de obra muito baixa – o governo preferiu concentrar seus esforços em desvalorizar o real e conceder algumas isenções tributárias temporárias e concentradas em poucos subsetores. Em paralelo, agiu para reduzir as margens de lucro e a rentabilidade dos negócios em vários setores, como elétrico, financeiro, mineração e petrolífero. Empresários, preocupados, reduziram investimentos.

A forte concorrência chinesa tem sido uma realidade para a indústria brasileira e para toda a indústria global. Já passou da hora de nos prepararmos para outra competição, agora com a indústria americana.

Como alertei ainda em 2010, a crise dos países desenvolvidos é na essência causada por excesso de endividamento. Ela só pode ser resolvida com um forte aumento de poupança e diminuição do consumo por lá. Acontece que menos consumo levará a menos crescimento, mais desemprego e salários menores.

Este processo é exatamente o reverso da medalha do que está acontecendo no Brasil e nos países emergentes. Aqui, o crédito sobe, o desemprego cai e os salários aumentam, sustentando a expansão do consumo e ganhos socioeconômicos.

O único instrumento de estímulo macroeconômico que restou aos países ricos são doses cavalares de impressão de dinheiro, com a consequente desvalorização de suas moedas. Com salários menores e moedas desvalorizadas, a perda de participação na produção industrial mundial de todos os países desenvolvidos na última década será revertida em algum momento nos próximos anos.

Nos EUA, este momento já está chegando. Não bastassem o dólar em desvalorização há uma década e os salários em contração em termos reais há seis anos, ocorre uma revolução na produção de energia, que deve levar os EUA de maior importador mundial de petróleo a exportador ainda nesta década. Tudo isto está reduzindo substancialmente o custo de se produzir nos EUA e aumentando a competitividade da indústria americana.

Por outro lado, tão cedo o consumo dos americanos não retomará a pujança anterior à crise de 2008. Isto significa que os produtores americanos direcionarão partes crescentes do que é produzido lá para outros mercados, aumentando sua participação nas vendas para o resto do mundo, incluindo o Brasil. Os EUA voltarão a ofertar produtos de menor valor agregado e retomarão mercados há muito perdidos. Prepare-se para o retorno do Made in USA.

Pode demorar mais para sentirmos seus efeitos, mas processos similares estão acontecendo na Europa e no Japão. Em paralelo, o crescimento chinês migra gradualmente para mais consumo interno e serviços, reduzindo o ritmo de crescimento da demanda por nossos metais e minerais.

Com mais competição dos desenvolvidos e menor fome chinesa por nossas matérias primas, o Brasil precisa urgentemente fortalecer seu potencial produtivo, estimulando investimentos, melhorando a infraestrutura, reduzindo os impostos permanentemente e qualificando sua mão de obra. O modelo de crescimento baseado na expansão do consumo, adotado pelo Brasil nos últimos 10 anos, se esgotou. O fraco crescimento e a aceleração da inflação deixam isso claro. Não dá mais para postergar soluções. A hora de cuidarmos do Made in Brazil está passando

segunda-feira, 6 de maio de 2013

AS RECOMPENSAS DO DIA-A-DIA


PRECISAMOS DE RECOMPENSAS


Por Gustavo Cerbasi

O que nos move e motiva para desafios são as recompensas que recebemos ao longo da vida. Perceba: por mais estressante que seja seu dia, ele será melhor após um cafezinho, ou após uma escapadinha para compras, ou ainda voltando para casa em um carro confortável. Por mais desgastante que seja sua rotina de trabalho, férias fazem com que você volte com o fôlego renovado.
Recompensas deveriam ser sempre valorizadas. Mas, não é o que acontece em muitos casos, quando o assunto é colocar o orçamento em ordem. Diante do aperto no caixa, temos a tendência de cortar aquilo que é mais fácil de ser cortado – o chamado gasto variável do orçamento.
É aí que transformam-se em supérfluos o cafezinho, a manicure, a assinatura de revista, o cinema, os presentinhos descompromissados, o jantar fora, as férias e a filantropia, entre outros. Mas, de supérfluos, esses itens de consumo não têm nada, afinal são nossas recompensas. Optamos por cortá-los do orçamento simplesmente porque outros itens são mais difíceis de descartar. Quem se arrisca a vender o carro ou a casa, ou ainda mudar o plano de saúde, para organizar as contas pessoais?
Isso explica por que poucas pessoas conseguem se manter longe das dívidas. Quando o equilíbrio financeiro nasce como consequência do descarte de recompensas e de um desequilíbrio no bem estar, subconscientemente passamos a brigar contra essa nova situação de equilíbrio. É como se nosso cérebro nos questionasse: “é melhor viver em dívidas e frustrado, ou endividado e feliz?”.
Responda a seu cérebro que nem um, nem outro. Por mais complicado que possa parecer, ajustar os grandes gastos é o caminho para encontrar o equilíbrio. Independentemente de você morar em um imóvel próprio ou alugado, sempre há a possibilidade de se mudar para outro 10 a 15% mais barato. O mesmo vale para automóveis, telefones, eletrodomésticos, pacotes de viagem, moda e acessórios. É possível gastar menos sem eliminar completamente determinados itens de nosso consumo.
Se, ao buscar equilíbrio nas contas, cada endividado se dedicasse ao trabalhoso processo de diminuir um ou dois de seus grandes gastos no orçamento, perceberia que é possível gastar menos sem deixar de gastar com prazer. E é importante ressaltar que todo processo de reorganização em busca de equilíbrio é potencialmente frustrante. É quando temos que reconhecer erros, assumir algumas perdas e rever o patamar de consumo que adotamos em algum momento no passado.
Nessa situação, recompensar-nos é especialmente importante, para que não nos sintamos necessariamente punidos e possamos manter o foco na solução do problema.Diminuir o padrão do carro irá lhe proporcionar o mesmo grau de conforto que você tem hoje? Certamente não. Mas, manter aquela verba para continuar aproveitando o carro, mesmo que popular, nos finais de semana, fará de você uma pessoa melhor e mais motivada. Ainda mais com as contas em dia!