Como escolher
um planejador financeiro
Valor Econômico – 15/05/2013
Decidir
o quanto poupar e onde investir é sempre uma tarefa difícil. Contar com a
assessoria de um profissional especializado para ajudar a definir os objetivos
financeiros e avaliar as melhores opções de investimento tendo a certeza de que o especialista
estará agindo de forma independente e isenta ainda é um luxo restrito a poucos no Brasil.
Mas esse quadro pode mudar.
No
dia 4 de maio, mais de 300 profissionais se reuniram para discutir os rumos e
tendências para a profissão de planejador financeiro pessoal. Foi em um
seminário promovido pelo Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais
Financeiros (IBCPF).
As
principais discussões giraram em torno do que Deena Katz, professora do
departamento de planejamento financeiro pessoal da Texas Tech University, nos
Estados Unidos, chamou de quatro mitos da profissão de planejador.
O
primeiro deles é a crença que, para o cliente, é sempre mais eficiente o
pagamento direto pelo serviço de assessoria financeira. A fórmula padrão é a de
uma remuneração fixa, relacionada com a dificuldade do trabalho. Supostamente,
essa é a maneira mais segura para minimizar os potenciais conflitos de
interesse.
Casos
em que as recomendações do profissional não estão, necessariamente, em linha
com os objetivos do cliente podem ocorrer com frequência. Após a análise da
situação patrimonial, o planejador financeiro tende a recomendar ações
práticas. Além de ajustes no orçamento doméstico, o especialista pode sugerir
determinados produtos financeiros, tais como aplicações em ações e fundos de
investimentos, quitação de empréstimos ou contratação de seguro e plano de
previdência.
O
bom senso sugere que, se a remuneração do planejador financeiro não estiver
atrelada à execução das recomendações, a isenção da análise será maior. No
entanto, Katz tem uma visão mais pragmática sobre o tema. Alguns clientes,
argumenta a especialista, podem se sentir desconfortáveis em pagar
antecipadamente por um serviço que não sabem, ao certo, qual resultado terá.
Porém, eventualmente, concordam que o planejador financeiro receba um
percentual sobre as ideias que forem efetivamente levadas adiante, mesmo na
forma de rebate sobre comissões de produtos financeiros.
O
importante é que o planejador financeiro adote princípios sólidos para o
exercício da atividade profissional, seja transparente, mantenha a isenção e
saiba identificar e administrar os inevitáveis conflitos. Mesmo no caso em que
os ganhos venham a ser gerados por meio de comissão de venda de produtos, é
possível manter a isenção. Mas é fundamental que o cliente, após ser informado
sobre a forma de remuneração do profissional, não tenha objeções.
O
segundo mito é a necessidade de o planejador possuir uma prática independente,
sem vínculos com instituições financeiras. Katz lembra que, para desenvolver
uma atividade autônoma, é necessária a contratação de diversos serviços
indispensáveis para o atendimento das demandas dos clientes. Dependendo do
estágio de desenvolvimento do mercado em que o planejador atua, os custos dos
serviços podem ser proibitivos. E compara os Estados Unidos com o Brasil.
Devido ao tamanho do mercado americano, os serviços de análise, negociação,
custódia e controladoria são oferecidos aos planejadores financeiros por uma
fração do que são cobrados aqui no país.
Além
disso, a atividade independente envolve preparo específico, tais como noções de
empreendedorismo, controle de custos e estratégias de captação e manutenção de
clientes. Na pior das hipóteses, o conjunto de outras tarefas pode tomar o
tempo e a energia que poderiam estar sendo empregados no planejamento
financeiro para os clientes.
Uma
possibilidade, então, é que, mesmo atuando como parte de um conglomerado
financeiro, o profissional adote práticas que o estimulem a agir de maneira
independente. Assim, colocará os interesses do cliente em primeiro plano. Cabe
ao potencial cliente desenvolver a percepção necessária para identificar com
que tipo de profissional está trabalhando.
O
terceiro mito é a necessidade de especialização do planejador financeiro na
gestão de recursos. Com a constante sofisticação do mercado de investimentos,
existe a pressão para que o profissional seja, cada vez mais, um especialista
em produtos e estratégias financeiras.
Para
Katz, o planejamento financeiro eficiente envolve uma abordagem holística, que
deve levar em consideração todos os aspectos das necessidades financeiras do
indivíduo. Se a opinião especializada for fundamental para resolver a
necessidade específica de um cliente, ela pode ser conseguida por meio de
consulta a outros profissionais.
Nos
mercados desenvolvidos, a especialização dos profissionais de planejamento
financeiro não tem ficado restrita às atividades de gestão de investimentos.
Hoje, existem assessores dedicados ao atendimento de determinados tipos de
demandas, tais como pequenos empresários ou famílias em que algum integrante
possui certo tipo de necessidade especial.
Por
último, o quarto mito é que os clientes querem apenas assessoria para
investimentos. Katz explica que, ao longo do tempo, houve mudanças relevantes
das principais preocupações. No passado, a recomendação final era o que
importava. As novas gerações preferem uma abordagem que propicie respostas
corretas.
Hoje,
é fundamental que o planejador financeiro possua um sólido processo para chegar
às recomendações. E deve ficar claro para o potencial cliente.