Artigo do Valor Econômico:
Sou médico, tenho 70 anos e pretendo em breve
desacelerar o trabalho e viver da minha aposentadoria e da renda de aluguéis e
dos investimentos. Como profissional liberal, recebo em média (incluindo a aposentadoria)
R$ 20 mil. Concentro o patrimônio em imóveis residenciais e comerciais. Tenho
R$ 250 mil em aplicações financeiras como CDB DI e fundo de renda fixa. Tenho
mais R$ 150 mil disponíveis para investir ou comprar um imóvel. Não sei bem
como devo direcionar os investimentos nesta fase da vida e que caminhos seguir.
Estou com vontade de comprar mais um imóvel.
Waldir Leôncio Netto (CFP) responde:
A transição para um estilo de vida sustentado pela
renda de investimentos e previdência é o sonho de muita gente, parabéns por
chegar lá com boa estrutura financeira. Supondo que seu patrimônio se resuma às
aplicações mencionadas. Assim, nota-se uma alta concentração em renda fixa e
uma baixa diversificação de carteira. De fato, aposentadoria combina com investimentos
mais conservadores, que priorizem a geração de caixa em vez do ganho de
capital, mas se sua renda passiva for mais que suficiente para bancar o novo
estilo de vida, pode ser interessante alocar um percentual de seu patrimônio na
renda variável, principalmente considerando a crescente dificuldade em
encontrar pechinchas no mercado imobiliário atual.
Investir em renda variável neste momento pode
parecer contraintuitivo, mas acompanhe o raciocínio: segundo a mais recente
tábua de mortalidade divulgada pelo IBGE, homens brasileiros de 70 anos têm uma
expectativa de vida de mais 13,4 anos, ou seja, tendem a viver em média até os
83. Esse tempo costuma ser mais que suficiente para perceber a inerente
tendência altista do mercado de ações. Mesmo passando por um momento de grande
baixa, o Ibovespa fechou 2012 a 60.952 pontos, um ganho médio anual de quase
20% (ou 12%, descontada a inflação) em relação aos 11.602 pontos registrados há
dez anos. Além disso, lembre-se que o foco do investidor em ações não deve ser
no ganho de capital, mas no fluxo de caixa recebido na forma de dividendos,
juros sobre o capital próprio e aluguel dos papéis. Estes tendem a ser um tanto
mais previsíveis do que o preço das ações e podem representar uma frequente e
diversificada fonte de recursos.
Com base não só em sua carteira atual, mas no seu
perfil de risco e nos planos que tiver para o seu futuro e o de seus herdeiros,
um planejador financeiro poderá lhe ajudar a identificar a distribuição ideal
dos investimentos. Pergunte-lhe também sobre outras opções de investimento como
os fundos imobiliários (FIIs) e os fundos de índices (ETFs) e de ações (FIAs),
especialmente aqueles voltados a boas pagadoras de dividendos.
Mesmo quem atinge a independência financeira não
está livre de emergências como um tratamento não coberto pelo plano de saúde ou
um imóvel vazio por muito tempo. Portanto, mantenha uma reserva suficiente para
cobrir alguns meses de despesas, de preferência em uma aplicação de alta
liquidez separada dos investimentos que mantém para gerar renda.
Aproveite que está com a mão na massa e faça uma
lista de tarefas pré-aposentadoria. Ela deve incluir atividades como verificar
o benefício da previdência social, pesquisar planos de saúde e atualizar seu
testamento. Reserve ainda um tempo para detalhar suas receitas e despesas nessa
nova fase da vida, avaliando onde pretende morar, o quanto pretende trabalhar e
como gastará seu tempo livre.